3 poemas de Rafael Braga ou cinco meses de ESCORRERluto contra o sono vespertino desses remédios. a responsabilidade de escrever dezenas de páginas. o sofrimento com a inspiração. "as musas me abandonaram", penso. e me pego preso em espaços em branco que não vão se preencher sozinhos. ouço a voz dela no fundo, sinto-me em casa. a casa que fiz em dois dias apenas com a sua voz. me parece estranho entregar-me assim a uma desconhecida, mas sou tomado por essa suavidade no seu falar. talvez seja essa a causa do sono, da moleza que acalma meu corpo um tanto ansioso. dia desses se tivesse tudo isso, talvez não tivesse pirado na rua, o medo crescente de ver as pessoas falando de mim, os olhos fechados em tentativa inútil de ser invisível. luto contra essas reações do corpo, preso num vagão de metrô, coração saindo pela boca, olhares me encarando durante toda a viagem. quis ser invisível, sempre quis sê-lo. mas ainda me é impossível simplesmente desaparecer. sem pistas que levem os indesejados ao meu alcance. luto contra a rejeição de alguns corpos, luto contra a rejeição do meu corpo. estou cansado e não consigo simplesmente desaparecer. que merda. Essas tonturas que me abrigam quando os olhos abaixam de vergonha quando me olhas inteiro por segundos Ampliam-se nestas noites em que a neblina toma a visão em que a saudade chama e há um vazio imenso em lençóis cheiros perdidos em esquinas nessa cidade inteira plana dessa vontade que nos acompanha. essas conversas que acabam do nada
exemplo de que nada prende não convence essas madrugadas que chegam e abalam com pessoas que não surpreendem não deixam nada deixaste sobras na mesa pontas de cigarro na areia quando amanhecemos abalados pelo cheiro de café que vinha do outro lado tinha mãos que descascavam e eu disse que era a bebida preocupaste o bastante para mandar-me ao médico doutores que curam essas coisas mas não as besteiras que inventamos de gastar tanta energia com os outros em conversas que acabam do nada pés que pisam sem pensar o lugar a extensão escura de um cômodo o vazio grande na pele e mais nada.
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Julho 2017
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