BALADA DA MASTURBADORA SOLITÁRIA O final de um caso é sempre a morte. Ela é a minha oficina. Olho escorregadio, fora da tribo de mim mesma o meu fôlego encontra-te ausente. Escandalizo os que estão presentes. Estou saciada. De noite, só, caso-me com a cama. Dedo a dedo, agora é minha. Ela não está demasiado longe. Ela é o meu encontro. Toco-a como um sino. Reclino-me no caramanchão onde costumavas montá-la. Possuíste-me na colcha florida. À noite, só, caso-me com a cama. Toma por exemplo esta noite, meu amor, em que cada casal mistura com uma reviravolta conjunta, para baixo, para cima, o dois abundante sobre esponja e pena, ajoelhando-se e empurrando, cabeça contra cabeça. De noite, só, caso-me com a cama. Desta forma escapo do meu corpo, um milagre irritante. Podia eu colocar o mercado dos sonhos em exibição? Espalho-me. Crucifico. Minha pequena ameixa, dizias tu. À noite, só, caso-me com a cama. Então chegou a minha rival de olhos escuros. A dama de água, erguendo-se na praia, um piano nas pontas dos dedos, vergonha nos seus lábios e uma voz de flauta. Entretanto, passei a ser a vassoura usada. Á noite, só, caso-me com a cama. Ela agarrou-te como uma mulher agarra um vestido de saldo de uma estante e eu parti da mesma forma que uma pedra parte. Devolvo-te os teus livros e a tua cana de pesca. No jornal de hoje dizem que és casado. À noite, só, caso-me com a cama. Rapazes e raparigas são um esta noite. Desabotoam blusas. Abrem fechos. Descalçam sapatos. Apagam a luz. As criaturas bruxuleantes estão cheias de mentiras. Comem-se uns aos outros. Estão repletos. À noite, só, caso-me com a cama. Anne Sexton (tradução de Jorge Sousa Braga).
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Julho 2017
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