Instinto de negridade “Não há dúvida que uma literatura, sobretudo literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é o certo sentimento íntimo, que o torne homem de seu tempo e do seu país, ainda quando trate deassuntos remotos, no tempo e no espaço.” Machado de Assis Não há dúvida que a revolta de um povo massacrado Sobretudo um povo sacrificado na sala de espetáculos da casa grande Entre móveis de jacarandá, castiçais de prata e cortinas de seda Deve alimentar-se primeiramente das estocadas que ainda lhe ferem a alma Do desespero de espaço em que lhe emparedaram a alma Não há dúvida que o meu verso é também o meu quilombo ardente Atento às doutrinas absolutas que me querem escalpelar o pixaim Queimar na fogueira do esquecimento meus sentimentos íntimos Alisar minha língua no ferro do feitor que mantém acesa a fogueira Conformar meu silêncio na pasta quente para esticar meus gestos O que devo exigir de mim mesmo e do meu estilo antes de tudo É certo sentimento íntimo que me faz ciente do conflito que trago na cor da pele O que me torna um antipatriota convicto em conflito com o teu país e a tua cor É ser um aliciador dos corações curtidos no limão e no alho que lhes tempera Porque meu verso é levante ainda quando distante no tempo no espaço na composição do sangue. Nelson Maca.
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Julho 2017
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