ACHAVA QUE NÃO PODIA SER MAGOADA Achava que não podia ser magoada; achava que com certeza era imune ao sofrimento -- imune às dores do espírito ou à agonia. Meu mundo tinha o calor do sol de abril Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro. Minha alma em êxtase, ainda assim conheceu a dor suave e aguda que só o prazer pode conter. Minha alma planava sobre as gaivotas que, ofegantes, tão alto se lançando, lá no topo pareciam roçar suas asas farfalhantes no teto azul do céu. (Como é frágil o coração humano -- um latejar, um frêmito -- um frágil, luzente instrumento de cristal que chora ou canta.) Então de súbito meu mundo escureceu E as trevas encobriram minha alegria. Restou uma ausência triste e doída Onde mãos sem cuidado tocaram e destruíram minha teia prateada de felicidade. As mãos estacaram, atônitas. Mãos que me amavam, choraram ao ver os destroços do meu firma- mento. (Como é frágil o coração humano -- espelhado poço de pensamentos. Tão profundo e trêmulo instrumento de vidro, que canta ou chora.) Sylvia Plath.
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
Archives
Julho 2017
Categories
Todos
|
ESCORRER