Dei-te o meu corpo como quem estende um mapa antes de viagem, para que nele descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses os dedos devagar, como fazem as aves quando encontram o verão. Se me tivesses tocado, ter-me-ia desmanchado nos teus braços como uma escarpa pronta a desabar, ou uma cidade do litoral a definhar nas ondas. Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas nas minhas mãos – tristes geografias, labirintos de razões improváveis, tão curtas linhas que a minha vida não teve tempo senão para pressentir-se. Por isso, guardo dos teus gestos apenas conjecturas, sombras, muros e regressos – nem sequer feridas ou ruínas. E, ainda assim, sem eu saber porquê, as ondas ameaçam o lago dos meus olhos. Maria do Rosário Pedreira.
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Julho 2017
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