vou acordar cedo, ligar a cafeteira pôr o pão na torradeira e sentar à mesa e te odiar por ter me dito sorrindo e te odiar por ter me dito chorando que já não dá mais e te odiar sobretudo por não ter me dito que já não dá mais vou odiar não me chamar johnny e não ter uma arma de qualquer calibre e não ter uma pistolinha que dispara água e nem um bodoque de borracha envelhecida para ejetar essa coisa qualquer que ficou na garganta vou pegar o café na cafeteira encher a caneca e tomar sem açúcar vou pegar o pão na torradeira e cobri-lo com uns nacos de manteiga não tenho tempo para ser um poema de prévert tomo meu café e saio e na rua o ipê roxo me lembra que o grande e nunca banal ciclo da vida veja só meu amigo continua e sobretudo deixa a mensagem clara quando alguém escorrega nas flores gosmentas caídas no chão e precisa ir ao pronto-socorro levar pontos no queixo no ponto de ônibus tem sempre um rapaz ouvindo qualquer coisa que soa como erasure por mim – hoje é sexta – ele que se engane para sempre no fio de seu ipod Angélica Freitas.
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Julho 2017
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