LÍNGUA DE ARUANDA minha avó que era filha da filha minha avó que era avó da avó tatibitateava quando menina uma cantiga perdida no fundo do cafundó cantiga que eu mesmo ainda canto de cor sem saber o que significa sem certeza se canto certo sei é que quando canto meu corpo vibra meu sangue estua e não há mau olhado que sobreviva a essa cantiga antiga que meus ancestrais gravaram no eco da voz dos meus avós Leo Gonçalves.
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JANEIRO/FEVEREIRO Calendário Philips 1980 Nem só a cav idade da boca Nem só a língua Nem só os dentes e os lábios fazem a língua Ouça as mãos tecendo a língua e sua linguagem É a língua têxtil O texto que sai das mãos sem palavras Décio Pignatari.
ONDE ESTÁS OU NÃO para o Joni Montras, cafés envidraçados, cidade transparente com croissants a desfolhar na boca e os livros entre os dedos. Tudo nos olhava com gula e sem destino. O teu riso continua a rir nas montras, mas o casaco jaz pendurado na cruzeta. Ela vem acariciá-lo à noite, recolher o cheiro, o gosto do beijo nas fotografias, as palavras que deixaste escritas e as que havias de escrever. Mas de dia as coisas ficam intocadas e ela apressa-se a chegar a casa porque é insuportável a solidão dos livros, dos discos empilhados. Às vezes sabemos que morreste e então morremos todos juntos. Mas o corpo continua a comer e a escovar os dentes, vai trabalhar e volta, e na casa estás em tudo, e tão ausente. O pior é não sabermos nada, onde estás ou não. Perguntamos uns aos outros como foi possível e continuamos a esperar o impossível. Até lá vamos ferindo os pés, afundando as chagas. Quando estamos vivos fingimos que não está morto o coração. Rosa Alice Branco.
Paleativa Você é rebelde só da cintura para baixo 1984, George Orwell busco prazer sendo profana para que o físico compense o descompasso do meu interior tão triste e tão mole. fujo dos sentimentos justamente por ter a plena consciência de que sou sentimental dem- ais. Tenho medo, pavor, fobia de apaixonar-me outra vez, dói muito. o amor corroeu minha alma, fez dela um terreno caduco, descrente. então, eu fecho os olhos, passo o batom vermelho e abro minhas pernas, tentando esquecer que sou humana: vou morrer. Bruna Kalil.
Os deslimites da palavra Ando muito completo de vazios. Meu órgão de morrer me predomina. Estou sem eternidades. Não posso mais saber quando amanheço ontem. Está rengo de mim o amanhecer. Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. Atrás do ocaso fervem os insetos. Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino. Essas coisas me mudam para cisco. A minha independência tem algemas Manoel de Barros.
leite, leitura, letras, literatura, tudo o que passa, tudo o que dura tudo o que duramente passa tudo o que passageiramente dura tudo, tudo, tudo, não passa de caricatura de você, minha amargura de ver que viver não tem cura Paulo Leminski.
Decisão Gosto de amar assim avidamente fogueira terremoto tempestade sobre a tua maior tranqüilidade ventosa universal nadando leve o céu se precipita do meu sexo entranha nervo córtex voltagem arrasto os horizontes da cidade cautelas seguranças subsolos perdoem se me dispo de repente e me encaminho ao mar sem dar resposta Lucila Nogueira.
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Julho 2017
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