(O mapa) a palavra água molha o verso e beija e seus olhos atrás do meu olhar quando o silêncio atravessa a noite: o território líquido das distâncias sem dor Jussara Salazar.
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OUTRAS METAMORFOSES DA MEMÓRIA poema 2 No meu braço Cansado O seu corpo macio Adormecido Um quarto do tamanho Do meu corpo - E o quarto Preenchido Ana Luísa Amaral.
Dóis-me algures num dente sem chumbo. Instalaste-te na minha boca, encheste a piscina de crocodilos. E aí permaneces, deitada ao sol. Não fosse eu uma criança gulosa que teima em não aprender a tabuada dos corpos e já te teria empurrado para dentro das lágrimas. F.S.Hill
Quando Fores Velha Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono, Dormitando junto à lareira, toma este livro, Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas; Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto, Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor, Mas apenas um homem amou tua alma peregrina, E amou as mágoas do teu rosto que mudava; Inclinada sobre o ferro incandescente, Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou E em largos passos galgou as montanhas Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas. Yeats.
Começávamos o dia por baixo pelo tempo da pedra. A escarpa muscular onde ia gastando os teus sapatos. Manhãs compridas que chegavam ao mar. Trazíamos as letras inclinadas trazíamos na ponta da língua o nome dos naufrágios e estávamos à mesa como um corpo de baile. Uma subsistência sonora era esse o estado da arte: éramos as claves do sul de lábios estendidos à medida das máscaras. Eu ia de rastilho, de árvore acesa. Ia iluminando a mão com que batias no fundo. Traçava as águas juntava as pernas para as covas do teu dente. Passavam orlas e orlas e nós naquela descoberta naquela terra toda à vista brincando ao verão aos redemoinhos na chávena. Catarina Nunes de Almeida.
A todas vocês, que eu amei e que eu amo, ícones guardados num coração-caverna, como quem num banquete ergue a taça e celebra, repleto de versos levanto meu crânio. Penso, mais de uma vez: seria melhor talvez pôr-me o ponto final de um balaço. Em todo caso eu hoje vou dar meu concerto de adeus. Memória! Convoca aos salões do cérebro um renque inumerável de amadas. Verte o riso de pupila em pupila, veste a noite de núpcias passadas. De corpo a corpo verta a alegria. Esta noite ficará na História. Hoje executarei meus versos na flauta de minhas próprias vértebras. Maiakóvski.
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Julho 2017
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