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  ESCORRER

Escorrer.

#101

10/31/2016

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PSICANÁLISE CASEIRA
 
há coisas de sobra que não se dizem
há coisas que sobram no que se diz
nossa miséria é uma alegria de palavras?
Marcos Siscar.
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#100

10/26/2016

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3 poemas de Rafael Braga ou cinco meses de ESCORRER


luto contra o sono vespertino desses remédios. a responsabilidade de escrever dezenas de páginas. o sofrimento com a inspiração. "as musas me abandonaram", penso. e me pego preso em espaços em branco que não vão se preencher sozinhos. ouço a voz dela no fundo, sinto-me em casa. a casa que fiz em dois dias apenas com a sua voz. me parece estranho entregar-me assim a uma desconhecida, mas sou tomado por essa suavidade no seu falar. talvez seja essa a causa do sono, da moleza que acalma meu corpo um tanto ansioso. dia desses se tivesse tudo isso, talvez não tivesse pirado na rua, o medo crescente de ver as pessoas falando de mim, os olhos fechados em tentativa inútil de ser invisível. 

luto contra essas reações do corpo, preso num vagão de metrô, coração saindo pela boca, olhares me encarando durante toda a viagem. quis ser invisível, sempre quis sê-lo. mas ainda me é impossível simplesmente desaparecer. sem pistas que levem os indesejados ao meu alcance. luto contra a rejeição de alguns corpos, luto contra a rejeição do meu corpo. estou cansado e não consigo simplesmente desaparecer. que merda.

​Essas tonturas que me abrigam
quando os olhos abaixam de vergonha
quando me olhas inteiro por segundos
Ampliam-se nestas noites
em que a neblina toma a visão
em que a saudade chama
e há um vazio imenso em lençóis
cheiros perdidos em esquinas
nessa cidade inteira plana
dessa vontade que nos acompanha.

​essas conversas que acabam do nada
exemplo de que nada prende
não convence
essas madrugadas que chegam e abalam
com pessoas que não surpreendem
não deixam nada
deixaste sobras na mesa
pontas de cigarro na areia
quando amanhecemos abalados
pelo cheiro de café que vinha do outro lado
tinha mãos que descascavam
e eu disse que era a bebida
preocupaste o bastante para mandar-me ao médico
doutores que curam essas coisas
mas não as besteiras que inventamos
de gastar tanta energia com os outros
em conversas que acabam do nada
pés que pisam sem pensar o lugar
a extensão escura de um cômodo
o vazio grande na pele
e mais nada.
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#99

10/25/2016

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SIMULACRO

Daqui a algumas horas
ajuda-me a subir estas escadas, ajuda-me
a ler no original um certo poema de Hölderlin,
antes que a noite nos deixe
e se abra de novo esse soalheiro, funcionário parêntesis
que nos deixa sem alternativa


É pagar a pronto ou planear um exílio
porque, juntos
não podemos beber
e nunca desejámos um futuro a dois
ou qualquer género de cenário
idílico - como se diz na gíria


A verdade
é que cada um teria que encontrar o seu sítio
onde de nada sirva o incenso,
os milhões de Meticais
as obrigações do tesouro


Se acabar por se desenhar dessas alturas um dia de regresso
não precisarei de auxílio
para ler no original um poema de Julian Casablancas
mas farei o que estiver ao meu alcance
para precisar, ao amanhecer
de ajuda para subir
quaisquer que sejam as escadas
Luís Pedroso.
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#98

10/24/2016

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ENGARRAFAMENTO

Com nós na garganta vejo a fila desses carros parados, antigos amigos me ligam, cobram poemas e sonhos, mal sabem que velhas canções cafonas soam no meu FM. Com o tempo fui ficando piegas. Eles me contam antigos amores, antigas cantilenas, antigos amores. O órgão coração me dói. Velhas cidades me sufocam, não avisto a linha do horizonte como na América do sul, as novas, de lá, jamais permaneceriam em mim. Resta um jorro incrédulo através de minhas pupilas vítreas, por sobre a cidade, cemitério ancião contemporâneo.
Flávia Nascimento Falleiros.
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#97

10/21/2016

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Dar-se

dar-se
entregar-se
o querer no outro transformar-se

cegueira esplêndida esta
vitória álacre e suma desgraça
Ana Hatherly.
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#96

10/20/2016

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Mulheres na literatura: existe uma escrita feminina?

Gabriela Sobral
Narrar é possuir discurso. E qual discurso queremos construir e representar, enquanto mulheres escritoras? Por isso, mais do que nos questionarmos acerca da existência ou não de uma escrita feminina, acredito que o exercício mais válido seja problematizarmos a que se propõe esta escrita. Digo isso pois a narrativa nos permite (re) existir e (re) organizar a construção do conhecimento; erigir novas estruturas simbólicas, a partir da auto- representação.  

A teórica Teresa de Lauretis identifica nas tecnologias do gênero (cinema, fotografia, produção acadêmica e literatura) um campo de produção simbólica, que, por vezes, reafirma estereótipos, como o da escrita feminina – esse lugar do sensível, do amor romântico, envolvida naquela bruma cor de rosa. Não que não possa ser, contudo a possibilidade de um único lugar limita o espectro da produção literária, que pode compreender outras vertentes como a ficção científica e de terror; só pensarmos que uma das mais importantes ficções de horror – Frankenstein – foi escrita pela jovem Mary Shelley.

Dessa maneira, pela constância com que as tecnologias e mídias reproduzem estereótipos e imagens de objetificação, muitas vezes, não representadas pelas próprias mulheres, abraçar a criação de uma estética feminina na escrita pode nos levar a incorrer no erro da auto-objetificação e naturalização de certos comportamentos, que inibem e restringem ainda mais a nossa capacidade criadora, em um ambiente já permeado por relações de poder desiguais.

Nota: 

Por isso gosto de falar de uma literatura de mulheres, de uma escrita de mulheres. A escolha por este termo nos tira de uma certa proposta estetizante e nos coloca no lugar de produtoras, revisoras, editoras. Estamos, agora, na ação, na produção do conhecimento e não na busca de nos enquadrarmos em um gênero literário imposto e construído de maneira nebulosa. O papel da musa já foi superado em certas proporções, nos cabe, no momento atual, alcançar a auto-representação e tomar as rédeas da das nossas obras, livros, fanzines, blogs ou seja qual for a materialidade do nosso ofício. 

Essas problemáticas, que há algum tempo eu vinha gestando, extrapolaram o pensamento e vieram parar aqui, neste ensaio, quando me deparei com o livro “Um teto todo seu” (188 pgs.), da Virginia Woolf, recentemente, reeditado pela editora Tordesilhas, com posfácio da crítica literária brasileira Noemi Jaffe. Nesta edição, estão organizadas palestras proferidas pela escritora inglesa na Newnham College e no Girton College, instituições dedicadas apenas à alunas da Universidade de Cambridge. 

Woolf vai tecendo um discurso que nos faz pensar como se construiu o silenciamento e adestramento da capacidade criativa das mulheres e nos leva a romper e buscar a representatividade do discurso. Imaginem como essas questões não eram processadas, tendo como contexto o início do século XX, quando mulheres não eram sujeitas de qualquer direito cidadão. Agora, na contemporaneidade, em que a cultura é esse tudo, epicentro das práticas sociais e de disputas de poder pelo conhecimento e pelo lugar de fala; devemos, enquanto escritoras, buscar nosso espaço, nossas territorialidades e reivindicar tantas outras aberturas nos processos do mercado editorial.

Voltando ao livro “Um teto todo seu”, logo de início, Virginia Woolf constrói a alegoria do espelho. Segundo ela, homens se colocam em situações de poder, pois se veem em dimensões maiores diante da imagem inferiorizada da mulher. Dessa maneira, constroem uma figura de si, detentora exclusiva da vida pública, na qual é possível publicar, ter renome ou entrar para a historiografia da literatura, como se a eles fosse dado, naturalmente, o dom da reflexão e da arte. 

“A mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural” (pg.54), o que tira delas a autoconfiança. “É por isso que tanto Napoleão quanto Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer [...] pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho encolherá; sua disposição de vida diminuirá” (pg.55).

A escrita de mulheres deve existir enquanto construtora de história, enquanto ofício, enquanto capacidade criativa, enquanto lugar de fala que se propõe a nos colocarmos como tais (escritoras) e não para nos rendermos a um nicho de mercado, quando há conveniência. Woolf traz, ainda, a questão de que as mulheres necessitariam de uma estrutura material (casa-dinheiro) para produzir. Sabemos que ela reflete a partir de uma condição burguesa, logo, há outras nuances a serem consideradas. Além disso, estamos construindo a temática em outro tempo e espaço que também pede novos olhares. De qualquer maneira, o texto nos leva a refletir que o teto que precisamos se expande e não mais se restringe a possuir um quarto ou uma moradia, e sim angariar meios para se conquistar um território muito mais disputado: o do discurso e o dos espaços representativos da vida. Pois o silêncio não pode existir; é preciso dar movimento à nossa imagem no espelho para projetar novas dinâmicas e realidades às mulheres que escrevem.  
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#95

10/19/2016

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Song for Baby-O, Unborn

Sweetheart
when you break thru 
you´ll find 
a poet here
not quite what one would choose.

I won´t promise 
you´ll never go hungry 
or that you won´t be sad 
on this gutted 
breaking
globe

but I can show you 
baby
enough to love 
to break your heart forever
Diane di Prima.
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#94

10/18/2016

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Todo banal é poético:  entre o cinema e a poesia; entre a contemplação e o 
espanto

Bárbara Cabral 
(este é um texto muito curto para ideias muito longas)

Todo banal é poético! 

Para entender e até mesmo teorizar sobre poesia, é preciso estar na mesma frequência que ela proporciona: o estado poético.  Então, vocês me perguntam: o que significa perceber o mundo poeticamente? Por que todo banal poético? O que liga o cinema à poesia?

Bom, o estado poético é uma frequência, estabelecida a partir da observação. Na verdade, mais do que isso, da contemplação. Contemplar é encontrar o sentido dentro da própria coisa – um sentido metafísico, mas não de uma metafísica cristã  e muito menos aristotélica, ou seja a busca por uma unidade –  e sim por meio da ontologia do ser (Heidegger pode ajudar): evitando a categorização discursiva.  Aqui nos aproximamos da meditação, da busca pela interioridade, do sentido em si. Perceber o mundo poeticamente é não necessitar da explicação. Desta forma, a poesia é entendida como inutilidade, pois não explica nada – tão pouco o mundo. “As coisas sem importância são bens da poesia”, para Manoel de Barros – o grande poeta das insignificâncias.  

Para entender nós temos dois caminhos:
[o da sensibilidade que é o entendimento
do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento
do espírito.
Eu escrevo com o corpo.
Poesia não é para compreender,
[mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore.


Manoel de Barros, em Matéria de Poesia

O devaneio entra como máxima para a frequência poética. O banal torna-se matéria de poesia, por isso, repito, todo banal é poético: a folha que cai. A pedra que fica. A formiga que existe. A criança que chora. O amor que acaba. O que torna essas ocasiões poéticas é a predominância do sentido em si mesmas.  É no ato de devanear que se encontra a poesia. Se há uma premissa para a justificação, já não se têm mais poesia. A poesia não se preocupa com os porquês tão pouco com uma lógica de causa e efeito. A poesia está interessada na sensação, na percepção, nas possibilidades distintas de realidades. Sendo assim, a frequência poética exige uma curiosidade, um espantar constante – uma eterna apreciação do que pode ser sentido. 

A volúpia corporal é uma vivência dos sentidos, não difere do simples olhar ou da pura sensação de água na boca causada por uma fruta; ela é uma grande experiência, infinita, que nos é dada, um saber do mundo, a plenitude e o brilho de todo saber.

Rilke em Carta a um jovem poeta

A imagem, ela própria, já carrega a noção de contemplação. Ela serve para ser vista. Para ser percebida. Enquanto montagem, o cinema desperta a noção do espanto. O corte proporciona a quebra do previsível, direciona o olhar para o que antes seria o invisível. E a depender da frequência do espectador, este espanto pode gerar incômodo ou a curiosidade. Se optar pelo primeiro modo, pode negar a imagem. Se optar pelo segundo, quer dizer que aceitou o contrato poético do filme em questão. Assim, o cinema, já enquanto linguagem, carrega dois conceitos da poesia: a contemplação e o espanto. 

Explicada a banalidade poética, penso o cinema como possibilidade de poesia para além da linguagem cinematográfica clássica como expliquei acima. Tão pouco sou a primeira e tão pouco serei a última a fazê-lo. Um dos grandes entusiastas desta ideia foi Pasolini, que já em seu Empirismo Herege, conceituava o Cinema de Poesia com estruturas semânticas pautadas não em uma linguagem cinematográfica, mas em uma língua poética própria para o cinema. Não explicarei os conceitos de Pasolini, pois eles são demasiadamente complexos para explanar em um texto que mais propõe ideias do que de fato quer destrincha-las (talvez este seja um texto poético). No entanto, é necessário ressaltar a perspectiva de que  para o cineasta italiano, a vida significa senão cinema, afinal,  percebemos o mundo através de imagens (materiais e abstratas – com isto quero dizer em realidade objetiva e subjetiva),  vivemos através das imagens,  somos sucessão de imagens, somos senão cinema. A morte? O corte. É só corte que dá sentido ao filme.

Se é tão presente em nossas vidas, a imagem, eu insisto, está dentro da banalidade. Ela é comum. Ela pertence a todos. O cinema ao compreender a imagem enquanto portadora de sentido em si mesma – busca senão uma intimidade. Quando o cinema se preocupa mais com a sensação do que com a representação, ele se torna poesia. O inútil importa. Aquela cena que não acrescenta em nada “narrativamente” no filme, ou mesmo uma imagem borrada – quando aparecem, elas próprias ressignificam o devaneio – elas remetem ao estado poético.

E se o cinema pode ter um tanto de poesia, quanto de cinema o poema tem? O poema é o próprio cinema moderno. Ele também se apresenta através de imagens, por vezes mais, por vezes menos representativas. Mas pouco preocupado com uma ordem cronológica, com uma sucessão de ações lógicas. O poema é o cinema poético: sucessão de imagens que fazem sentir. O poema é o que não quer ser e pretende ser aquilo que não é. O poema quer ser imagem. 

Despalavra 

"Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros.
Daqui vem que todas as pedras podem ter qualidades de sapo.
Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades de árvore.
Daqui vem que todos os poetas podem arborizar os pássaros.
Daqui vem que todos os poetas podem humanizar as águas.
Daqui vem que todos os poetas devem aumentar o mundo com as suas metáforas.
Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes, podem ser pré-musgos.
Daqui vem que os poetas podem o mundo sem conceitos.
Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto."


Manoel de Barros

Referências:
​

HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica? Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção Os Pensadores. 
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo herege. Lisboa: Assírio Alvim, 1982.
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#93

10/17/2016

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COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
Torquato Neto.
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#92

10/14/2016

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​Quando entre nós só havia 
uma carta certa 
a correspondência 
completa o trem 
os trilhos 
a janela aberta 
uma certa paisagem 
sem pedras ou 
sobressaltos 
meu salto alto 
em equilíbrio 
o copo d’água 
a espera do café
Ana Cristina César.
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