A flor da solidão Vivemos convivemos resistimos cruzámo-nos nas ruas sob as árvores fizemos porventura algum ruído traçámos pelo ar tímidos gestos e no entanto por que palavras dizer que nosso era um coração solitário silencioso silencioso profundamente silencioso e afinal o nosso olhar olhava como os olhos que olham nas florestas No centro da cidade tumultuosa no ângulo visível das múltiplas arestas a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa Nós tínhamos um nome para isto mas o tempo dos homens impiedoso matou-nos quem morria até aqui E neste coração ambicioso sozinho como um homem morre cristo Que nome dar agora ao vazio que mana irresistível como um rio? Ele nasce engrossa e vai desaguar e entre tantos gestos é um mar Vivemos convivemos resistimos sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos Ruy Belo.
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Julho 2017
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