PLENA Plena sinto tua carne tão dentro de mim, que já não a sinto sobre mim totalmente. Acaso estás todo tu dentro de mim? Ou estás fora e só te imaginei? Vera Pavlova.
0 Comentários
Verdad Abandono mi ser en el polvo sobre el pecho Espero por mí y me pierdo esperándome Si no me encuentro es porque estoy mirando un río Sólo de espaldas eres real. Luis Alberto Crespo.
NINGUÉM MEU AMOR Ninguém meu amor ninguém como nós conhece o sol Podem utilizá-lo nos espelhos apagar com ele os barcos de papel dos nossos lagos podem obrigá-lo a parar à entrada das casas mais baixas podem ainda fazer com que a noite gravite hoje do mesmo lado Mas ninguém meu amor ninguém como nós conhece o sol Até que o sol degole o horizonte em que um a um nos deitam vendando-nos os olhos. Sebastião Alba.
Mulher que diz tchau Levo comigo um maço vazio e amassado de Republicana e uma revista velha que ficou por aqui. Levo comigo as duas últimas passagens de trem. Levo comigo um guardanapo de papel com minha cara que você desenhou, da minha boca sai um balaozinho com palavras, as palavras dizem coisas engraçadas. Também levo comigo uma folha de acácia recolhida na rua, uma outra noite, quando caminhávamos separados na multidão. E outra folha, petrificada, branca, com um furinho como uma janela, e a janela estava fechada pela água e eu soprei e vi você e foi o dia em que a sorte começou. Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, dizíamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.) Não levo nem uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu não estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi. Eduardo Galeano.
PALAVRAS MANSAS SERVEM BEM VERDADES FORTES Palavras mansas servem bem verdades fortes. Palavras bravas também as servem, mas são aí mais difíceis de evocar. E por isso as palavras servem melhor o engano, A dissimulação – que deixam sempre algum artifício de que um homem se pode valer. A verdade não deixa nada, nenhum resto para depois. A verdade desarma um exército, sozinha. Joana Aguiar.
odeio fazer poemas sou mulher e tudo é verdade mesmo quando não me confesso mas ai de mim se não os faço urro remédio amargo passarinho sai de perto de mim a doçura fere tanto quanto o estupro Fabíola Lacerda.
200 posts no Escorrer: um poema de Rafael Bragafalam tanto porque há quem ouça essas queixas comportamentais etiqueta dos ouvintes comentários nascem como água que da fonte sacia a sede de crianças enquanto crianças andam procurando endereços daqueles que os abandonaram sem endereço falam tanto e os ouvem sentados em cômodos climatizados brilhantes telas pobres mentes que não conseguem achar panelas em seus armários falam tanto e me queixo a paciência falta com os dias com suas teorias furadas essa gente que cita kafka, lispector escrevem versos que nunca falaram nada escrevem sobre privilégios de dentro das ruas arborizadas da cidade de dentro de cômodos climatizados falam tanto e já não os quero ouvir e toca alto a música escolhida dentro deste bar com cadeiras de plástico Rafael Braga.
TROVOA minha cabeça trovoa sob meu peito eu te trovo e me ajoelho destino canções pros teus olhos vermelhos flores vermelhas, vênus, bônus tudo o que me for possível ou menos (mais ou menos) me entrego, ofereço reverencio a tua beleza física também mas não só não só graças a Deus você existe acho que eu teria um troço se você dissesse que não tem negócio te ergo com as mãos sorrio mal mal sorrio meus olhos fechados te acossam fora de órbita descabelada, diva, súbita súbita seja meiga, seja objetiva seja faca na manteiga pressinto como você chega, ligeira vasculhando a minha tralha bagunçando a minha cabeça metralhando na quinquilharia que carrego comigo (clipes, grampos, cremes, tônicos) toda a dureza incrível do meu coração feita em pedaços minha cabeça trovoa sob teu peito eu encontro a calmaria e o silêncio no portão da tua casa no bairro famílias assistem TV (eu não) às oito, nove da noite eu fumo um marlboro na rua como todo mundo e como você eu sei quer dizer, eu acho que sei eu acho que sei vou sossegado e assobio e é porque eu confio em teu carinho mesmo que ele venha num tapa e caminho a pé pelas ruas da Lapa (logo cedo, vapor? não acredito!) a fuligem me ofusca a friagem me cutuca nascer do sol visto da Vila Ipojuca o aço fino da navalha que faz a barba o aço frio do metrô o halo fino da tua presença sozinha na padoca em Santa Cecília no meio da tarde soluça, quer dizer, relembro batucando com as unhas coloridas na borda de um copo de cerveja resmunga quando vê que ganha chicletes de troco lembrando que um dia falou “sabe, você tá tão chique meio freak, anos setenta fique, fica comigo se você for embora eu vou virar mendigo eu não sirvo pra nada não vou ser seu amigo fique, fica comigo” minha cabeça trovoa sob teu manto eu me entrego ao desafio de te dar um beijo entender o teu desejo me atirar pros teus peitos meu amor é imenso é maior do que penso é denso espessa nuvem de incenso de perfume intenso e o simples ato de cheirar-te me cheira a arte me leva a Marte a qualquer parte a parte que ativa a química química ignora a mímica e a educação física só se abastece de mágica explode uma garrafa térmica por sobre as mesas de fórmica de um salão de cerâmica onde soem os cânticos convicção monogâmica deslocamento atômico para um instante único em que o poema mais lírico se mostre a coisa mais lógica e se abraçar com força descomunal até que os braços queiram arrebentar toda a defesa que hoje possa existir e por acaso queira nos afastar esse momento tão pequeno e gentil e a beleza que ele pode abrigar querida nunca mais se deixe esquecer aonde nasce e mora todo o amor Maurício Pereira. A CARÊNCIA Não sei sobre pássaros, não conheço a história do fogo. Mas creio que minha solidão deveria ter asas. Alejandra Pizarnik.
Lembra o tempo em que você sentia e sentir era a forma mais sábia de saber E você nem sabia? Alice Ruiz.
|
Archives
Julho 2017
Categories
Todos
|
ESCORRER