ONDE ESTÁS OU NÃO para o Joni Montras, cafés envidraçados, cidade transparente com croissants a desfolhar na boca e os livros entre os dedos. Tudo nos olhava com gula e sem destino. O teu riso continua a rir nas montras, mas o casaco jaz pendurado na cruzeta. Ela vem acariciá-lo à noite, recolher o cheiro, o gosto do beijo nas fotografias, as palavras que deixaste escritas e as que havias de escrever. Mas de dia as coisas ficam intocadas e ela apressa-se a chegar a casa porque é insuportável a solidão dos livros, dos discos empilhados. Às vezes sabemos que morreste e então morremos todos juntos. Mas o corpo continua a comer e a escovar os dentes, vai trabalhar e volta, e na casa estás em tudo, e tão ausente. O pior é não sabermos nada, onde estás ou não. Perguntamos uns aos outros como foi possível e continuamos a esperar o impossível. Até lá vamos ferindo os pés, afundando as chagas. Quando estamos vivos fingimos que não está morto o coração. Rosa Alice Branco.
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Julho 2017
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