Malú Nunes PRIMEIRA EPÍSTOLA A ELA eu sempre me perguntava, naquele outro tempo, como estariam nossos nós depois que o amor chegasse ao fim. imaginava um vácuo, uma não-relação, os olhos revirando de aversão quando um fulano viesse falar sobre você. e o peito pesado, destroçado, eterno convalescente. o disco arranhando, repetindo o roteiro do nosso desencontro naquela música da Luiza que falava sobre a gente. confesso que a ouvi pouquíssimas vezes depois da minha partida, sempre sob a coragem etílica, aquela dos ímpetos românticos que fazia dançar meus dedos sobre a tela do celular na tentativa de chamar sua atenção e afastar a saudade. o álcool antes de virar ressaca, humilha. o caso é que hoje me dei conta que há muito não lhe escrevo – e a primeira lembrança desse futuro do pretérito a respeito de nosso término se deu quando me peguei sorrindo e agradecendo à vida por ela ter nos presenteado com um recomeço. agora você dorme em outro abraço, mas terá sempre os meus braços para agarrar quando tudo parecer ruir. o seu beijo preferido também é de outro alguém, mas o colo que te acalma e protege ainda está aqui. eu continuo sendo o seu lar e em sua casa nunca serei visita. os livros de amor não fazem jus à nossa história, ela ainda espera por mim para ser retratada (um dia). nossas cicatrizes são a prova de que atestamos Lavoisier a facadas, lentamente. aquele amor eloquente e destrutivo deu lugar à ternura de um amor manso, respaldado pelo companheirismo de sempre. e é tão bonito, menina! bonito que dói. não aquela dor sôfrega de suspiro pesado que lateja a cabeça, mas uma dor gostosa de adolescente que colocou o primeiro piercing e se sente corajoso e orgulhoso daquela orelha vermelha, em chamas, mas enfeitada. foi um prazer crescer ao seu lado e ter contigo inúmeras primeiras vezes. é incrível permanecer na sua estrada caminhando de braços dados sob a proteção do malandro. você bem sabe que quando lá de Aruanda começaram a consertar meu mundo da pá virada aqui, foi teu afeto constante que me segurou. obrigada por não desistir. por fim, minha amiga, desejo-lhe apenas sorte porque a força, a coragem e a grandeza já refletem no brilho verde dos seus olhos. com o sempre latente, mas agora tranquilo amor.
até breve.
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Julho 2017
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